Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas

Uma estrutura de bambu ergue-se como espaço de confluência entre técnica, ancestralidade e prática coletiva. OCO é a primeira obra do Cambará Instituto, organização originada do Projeto Arquitetas Negras, concebida durante uma residência artística no Cerbambu, em Ravena (MG), com apoio do re:arc institute. Ao longo de sete dias de imersão, em julho deste ano, dez arquitetas negras trabalharam ao lado do mestre Lúcio Ventania, explorando o potencial construtivo e simbólico do bambu. O processo culminou na apresentação da obra na 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo.

A experiência propôs um reencontro entre práticas arquitetônicas e ciências enraizadas no corpo e na terra. O processo envolveu todas as etapas de produção, da escolha e corte do bambu à cura e montagem, resultando em uma estrutura de seis metros de altura e cinco de diâmetro. O desenho faz referência às xossas do Benin e conta com palhas da costa do país africano em seu topo. A instalação foi ainda "vestida" com 220 mil contas, conhecidas como "lágrimas de Nossa Senhora", confeccionadas por quarenta mulheres idosas em situação de vulnerabilidade social, que vivem na região onde foi realizada a residência artística, fortalecendo vínculos comunitários e econômicos.

Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 2 de 12Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 3 de 12Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 4 de 12Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 5 de 12Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Mais Imagens+ 7

Dirigido por Gabriela de Matos, Audrey Carolini, Kaisa Santos, Sheroll Martins e Vilma Patrícia, o Cambará Instituto propõe o projeto a partir da tríade terra-corpo-estrutura. "A terra como território e matéria ancestral, o corpo como espaço de memória e ação, e a estrutura como gesto compartilhado e coletivo". Essa abordagem desloca a arquitetura do campo técnico e aproxima o fazer construtivo de uma dimensão simbólica e pedagógica. Nesse sentido, o tempo não é linear, mas espiralar. Cada gesto, palavra e matéria, ensina Leda Maria Martins, se entrelaçam e dobram o presente, abrindo espaço para outras experiências e formas de existência.

Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 11 de 12
Residência artística promovida pelo Cambará Instituto. Foto © Julia Novoa Fotografia

Mais do que uma estrutura, OCO é o registro de um processo coletivo que articula tecnologia, ancestralidade e afeto. Para Lúcio Ventania, o projeto é uma semente com potencial para "modificar definitivamente a paisagem arquitetônica da periferia brasileira através da mão da mulher negra — por conforto, por beleza e por uma economia que favoreça sua liberdade". É justamente aí que está seu sentido político, ao afirmar a potência criadora da mulher negra e propor novas economias e estéticas alternativas. 

Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 12 de 12
Residência artística promovida pelo Cambará Instituto. Foto © Julia Novoa Fotografia

"Essa instalação tem que rodar o Brasil inteiro para mostrar o potencial de aquilombamento de mulheres negras na arquitetura", diz a diretora Audrey Carolini. Assim, o processo de residência artística se apresenta como uma prática coletiva onde confluem outros modos de reinventar o mundo e a vida — e seu resultado, a estrutura OCO, materializa uma arquitetura que se organiza pela escuta, pelo tempo compartilhado e pelo gesto manual como meio de aprendizagem.

Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas - Imagem 7 de 12
Foto da instalação OCO na abertura da 14ª Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo. Cortesia de Cambará Instituto

OCO reforça a dimensão da arquitetura afro-brasileira no centro do debate contemporâneo sobre ética, ecologia e práticas coletivas, e reafirma a necessidade de construir não apenas edifícios, mas relações.

Galeria de Imagens

Ver tudoMostrar menos
Sobre este autor
Cita: Romullo Baratto. "Cambará Instituto explora bambu como meio para uma arquitetura afro-brasileira baseada em ancestralidade e práticas coletivas" 10 Out 2025. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/1034905/cambara-instituto-explora-bambu-como-meio-para-uma-arquitetura-afro-brasileira-baseada-em-ancestralidade-e-praticas-coletivas> ISSN 0719-8906

¡Você seguiu sua primeira conta!

Você sabia?

Agora você receberá atualizações das contas que você segue! Siga seus autores, escritórios, usuários favoritos e personalize seu stream.